UM Libertadores pela primeira vez na história será decidido entre dois SAF. Atlético Mineirode Rubens Menin e Botafogo, de John Textor, disputam a final no dia 30 de novembro. O que não é novidade é a hegemonia recente do Brasil. Como a decisão passou a ser um jogo único, apenas times brasileiros conquistaram o título em 2019, e apenas duas vezes foram times de fora do país. Rio da Prata (2019)d Boca Juniors (2023).
Curiosamente, mesmo com a garantia de mais um título do Brasil, o país tem dois a menos que a Argentina, que tem 25. O cenário macroeconômico de seus vizinhos dificulta o futebol, enquanto o Brasil tem contribuições recentes, tanto por meio do aumento de patrocínios quanto da compra de clubes.
Enquanto os SAFs serão regulamentados no Brasil a partir de 2021, a Argentina passa pelo polêmico tema das Sociedades de Equidade Esportiva (SADs). A maioria dos clubes rejeita a ideia, embora existam ícones do futebol que a apoiam. O maior torcedor é Mauricio Macri, ex-presidente do país e do Boca Juniors e aliado do atual presidente Javier Miley, que discute o assunto desde a campanha de 2023.
A decisão do governo foi tomada em agosto e a AFA teve 1 ano para adaptar o seu estatuto de forma a transformar os clubes em SAFs, alterando o modelo existente de uniões civis. A pesquisadora aponta uma contradição, já que Miley defende a ideia de um estado menos intrusivo.
Pensando nisso, e afetando também os clubes, cancelou os incentivos fiscais concedidos às equipes no final de outubro. O decreto vigorou há pouco mais de um ano, assinado pelo então presidente Alberto Fernández. Antes, já foi deposto durante o governo Macri.
Riquelme, ídolo e presidente do Boca, é a voz contra a SAD
Miley, que já anunciou que deixou de torcer pelo Boca e se transferiu para o River, teve papel importante na eleição do clube Xeneise em 2023. Apoiou Andrés Ibarra, candidato de Macri e rival de Riquelme.
O ex-número 10 do Boca recebeu 30.318 votos, 68% dos votos. A eleição foi uma mensagem de oposição à potencial SAD do Boca Juniors.
“Os torcedores precisam saber que estamos diante da eleição mais fácil da história. Quando esses senhores voltarem, vão privatizar o clube, entregá-lo aos três amigos que têm aqui e nunca mais votar. pode. Nunca mais coloque os pés no nosso clube, eles não são torcedores, querem usá-lo para outra coisa”, disse Riquelme em entrevista coletiva.
A questão social dos clubes argentinos é cada vez mais popular que a do Brasil. “O processo político eleitoral dos clubes é muito importante. É o conceito de que os associados têm clubes. Eles votam nos candidatos. Não é uma questão transparente e perfeita, mas existe a possibilidade de votar”, explica Verônica Moraes.
“Esses centros sociais são onde acontecem as atividades, algo relacionado à socialização. Entrar em uma balada, tomar café, conversar, ocupar o espaço pessoal. Continua sendo uma tradição. Estar em um espaço de pertencimento”, explicou da.
Verónica teme a elitização do desporto caso o modelo das SADs seja implementado. Ele afirma ainda que os clubes argentinos estão mais atuantes na formação esportiva amadora e infantil, que visa formar até mesmo atletas de alto rendimento em modalidades como basquete, boxe, taekwondo e ginástica rítmica. Segundo ele, esta parte poderia ser ignorada por uma SAD que quisesse lucrar com o futebol.
“O futebol é mais popular na Argentina, é o que resta. Não estou falando dos estádios do River e do Boca. o esporte será proibitivo para a maioria das pessoas”, avalia.
Riquelme tem mandato até o final de 2027. Após ser selecionado, o Boca Juniors divulgou um comunicado contra os SADs. “A vida do Boca Juniors depende do lugar onde nasceu, cresceu e tomou o tamanho que hoje é reconhecido como um movimento popular no mundo”.
Uma pesquisa radiográfica com torcedores de futebol argentinos, realizada pelo Grupo Kantar e publicada no final de 2022, mostra que cerca de 30% dos argentinos são torcedores do Boca Juniors. O percentual de quem se identificou com o River Plate ficou entre 24% e 30%.
“Tem gente que apoia (SADs). Empresários de outros clubes, como Talleres e Deportivo Riestra. Não são os clubes mais emblemáticos. A questão é o que aconteceria se River ou Boca ou ambos concordassem”, diz Verônica.
Sem a ordem de Maile, há formas de evitar a regulamentação das SAD, como é feito na Alemanha, onde uma empresa não pode possuir mais de 50% de um clube, sujeito a até 49%. Outra possibilidade é a adotada por Belgrano, Defensa y Justicia e Talleres, onde a gestão é transferida para uma empresa que paga o clube.
A favor do modelo, o ex-jogador Veron, atual presidente do Estudiantes, quase fechou um aporte de R$ 650 milhões ao clube, que vem de um empresário norte-americano. Criticando a AFA, questionou os valores pagos pela agremiação aos campeões, apontando o que o Flamengo fez com a Copa do Brasil.
“E aqui (na Argentina) entre o Mundial e a Copa Argentina nem dá para cobrir os ônibus dos torcedores… mas o clube é dos sócios”, brincou, referindo-se indiretamente à disputa dos SADs.
O Flamengo arrecadou 93,1 milhões de rupias na campanha da Copa do Brasil. O clube arrecadou Rs 19,6 milhões da terceira rodada até as semifinais e recebeu Rs 73,5 milhões pelo outro troféu. A fase de playoffs nacionais é considerada a competição mais lucrativa do futebol nacional.
O atual campeão da Copa da Liga Argentina, Estudiantes, recebeu US$ 500 mil (cerca de US$ 2,9 milhões) da Conmebol em conjunto com a Federação Argentina de Futebol (AFA). Segundo a imprensa do país vizinho, 70% da receita da partida final com o Vélez Sarsfield, no Estádio Madre de las Ciudades, foi para a entidade sul-americana.
“A ideia de associação civil tem a ver com esse projeto coletivo que afeta a sociedade. A lógica empresarial entende que pertence ao grupo. associação civil é para ganhar dinheiro, mas o lucro pode ser rentável para os sócios”, pensa Veronika.
Recentemente, o presidente do Santos M. Marcelo Teixeirafalou parar sobre a oportunidade da SAF. Para ele, a decisão deveria ser dos associados. “Meu compromisso com a adesão é a gestão. Então nem o Marcelo nem o Conselho. Esses membros, que são os donos originais do Santos, vão decidir se querem ou não fazer a opção de avançar nesta fase (sobre a SAF)”, disse. disse.