A falha em Interlagos mostra mais uma vez a dificuldade da F1 em pista molhada. Mas o quê?
Quem acompanha a F1 há muito tempo vai lembrar que muita gente dizia que a diversão dessa categoria é correr em pista molhada, algo que não acontecia nos Estados Unidos e seu oval. Porém, nos últimos tempos, o que é raro é ver uma corrida na chuva.
O velho clichê diz que a chuva mostra bons pilotos e os carros não são tão decisivos para o desempenho. Ao longo dos anos, quantos vimos que comprovam esta teoria, e quantos espectadores vimos em tempo chuvoso?
Porém, a F1 caminha para uma estrada técnica que prejudica as corridas na chuva e a memória mais traumática que vem à mente de todos é o GP da Bélgica 2021, quando passamos mais de 3 horas esperando que o tempo melhorasse. e houve uma simulação de corrida atrás do safety car só para garantir pontos.
Voltando ao ponto técnico, a situação não se aplica aos circuitos, embora aqui a drenagem também desempenhe um papel prejudicial. Mas há dois pontos importantes: pneus e aerodinâmica.
Pneus
Os pneus com faixa azul, batizados de Cinturato pela Pirelli e projetados para chuvas fortes, hoje são considerados apenas um elemento decorativo. Chega até a preferir o uso de intermediários a eles, justamente pelo desenho e composição da ligação. Oficialmente, a Pirelli afirma que pneus de chuva forte podem dissipar cerca de 85 litros por segundo.
Isso parece muito? E é. Além disso, os pneus para chuva têm um composto de borracha mais macio do que os pneus para pista seca, para que possam aquecer mais rapidamente e aumentar a aderência. Em teoria, está tudo bem.
Porém, a realidade prejudica os planos: apesar de ter muitos dados e toda a capacidade técnica, a Pirelli não tem amplas condições para testar compostos. É possível replicar condições de pista molhada em circuitos de teste, mas o tempo de pista é muito limitado.
Diversas vezes, a Pirelli sugeriu que alguns carros estivessem disponíveis para desenvolver pneus melhores. Porém, as equipes vetaram a medida, sugerindo que poderia haver algum tipo de atividade. Na tentativa de minimizar isso, o regulamento prevê um período “oficial” de testes com as equipes (até 30 dias) para desenvolver conexões, principalmente após as competições europeias.
Porém, em muitos casos o asfalto precisa estar molhado para ter dados para testes de pneus de chuva e as equipes torceram o nariz. Mas não tem como fazer omelete sem quebrar o ovo…
Aerodinâmica
Outro ponto é a aerodinâmica. Cada vez mais carros geram quantidades ridículas de arrasto aerodinâmico. O objetivo é aproximar os veículos do solo e aumentar a confiabilidade da obra. Com a introdução do efeito solo, este aspecto tornou-se mais importante.
Para gerar mais downforce, uma pista molhada cria duas armadilhas: o manual de ajuste diz para deixar a suspensão mais macia e a altura do percurso mais alta. Isso acaba dando ao carro um pouco mais de aderência mecânica (mais contato com o solo) e um pouco mais de resistência do ar. Porém, com um carro mais macio, percursos de estacionamento mais curtos e designs mais baixos, as chances de o carro bater no chão e perder o motorista aumentam significativamente.
Junte esses elementos e isso explica por que F1 age como se fosse alérgico à chuva. Todos os participantes têm consciência dos problemas, mas resolvê-los requer medidas que nem sempre os participantes pretendem compreender…
No ano passado, a F1, a FIA e as equipes começaram a desenvolver soluções para tentar melhorar as condições, inclusive colocando uma espécie de escudo no eixo traseiro para reduzir o desgaste dos pneus. No entanto, os estudos ainda são inconclusivos.