Conheça Nana Silva, tenista de 14 anos que pratica no asfalto e chega a 189 km/h.

O jeito espontâneo ainda é infantil, o sorriso já lembra o de um adolescente. Mas o talento tenista de Nauhani Silva já está maduro. Tanto é que Nana, como é mais conhecida, aparecerá na segunda-feira no ranking da WTA, assim como aparecem os melhores tenistas do mundo. Com apenas 14 anos e seis meses, o Brasil será o mais jovem da lista mundial desta semana.

Nana também se tornou a segunda tenista mais jovem da história do tênis brasileiro, atrás apenas de Helena Bueno. Para comparação, Beatriz Haddad Mayaa melhor tenista do país, depois da lenda Maria Esther Bueno, é a primeira do ranking de 15 anos, uma vez mais velha que Nana.

Assim como Bia, Nana é paulista e mostra talento desde as primeiras competições quando criança. A temporada 2024 foi um divisor de águas para o adolescente, que conquistou bons resultados em três torneios profissionais nos últimos meses e reuniu condições para entrar oficialmente no ranking WTA. Ele também teve sua primeira experiência em um torneio de Grand Slam na categoria juvenil em Roland Garros, em Paris, após vencer as eliminatórias brasileiras em São Paulo.

Com rápido desenvolvimento nos últimos meses, Nana já é considerada uma das grandes promessas do tênis brasileiro. “Quero ser a número um do mundo. Mas há todo um processo. É preciso muita dedicação e trabalho todos os dias”, diz Nana em entrevista ao pararjá sobre as dificuldades que temos pela frente.

A expressão talentosa é um traço atraente da personalidade do adolescente acostumado a entrar cedo no mundo do tênis. Nana começou a “treinar” aos dois anos com o pai, professor de tênis. E ele decidiu se tornar tenista apenas quatro anos depois.



A jovem tenista Nauhani Silva, 14 anos, na quadra de São Paulo, onde pratica

Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

“Eu tinha seis anos e decidi que era isso que queria para mim e me dei muito. Perdi uma corrida e fiquei com muita raiva. Era muito competitivo. Ainda sou.” , diz o tenista, em meio a risadas. “Não gosto de perder, nem ímpar nem par. Perdi aquela corrida e disse: ‘Vou me culpar porque quero vencer’”.

A PAREDE DA CASA

O tênis entrou naturalmente na vida de Nana. Seu pai jogou quando adolescente e se tornou professor profissional. Seu amor pelo tênis foi compartilhado com a filha mais velha na primeira oportunidade.

“No começo usávamos balões, brincávamos no tapete. Depois tiramos o sofá e batíamos na parede da sala. No começo era uma bola grande, leve. A Nana tinha dois anos e se divertia”, conta Paulinho Silva, pai de adolescente.

A “diversão” logo chegou à casa da família. E o pai do treinador procurava um lugar para treinar na sua rua. “Nunca tive playground nem equipamento para brincar. Quando encontramos um local para treinar, fomos. Foi tudo de última hora, não planejado. Treinávamos em áreas públicas, principalmente no Parque Villa. – Lobos E no asfalto , na rua, pegamos uma fita e apontamos para o chão.”

O treino adaptado, tanto em campo como em casa, pode desempenhar um papel crucial no desenvolvimento das capacidades de ténis de um adolescente. Para o pai, treinador, jogar no hotel ajudou Nana a se adaptar aos pequenos espaços e a resolver “problemas” em campo, principalmente com a flexibilidade da mão para bater na bola.

“Ele se desenvolveu bem, porque a bola afundava no asfalto, o quique era errático. A bola às vezes pegava uma pedrinha no chão e ia embora, e a Nana tinha que bater rápido. “Os especialistas dizem que o tênis deve sempre se adaptar às situações da quadra”, afirma Paulinho.

Voar a 189 km/h



A jovem tenista Nauhani Silva, 14 anos, na quadra de São Paulo, onde pratica

A jovem tenista Nauhani Silva, 14 anos, na quadra de São Paulo, onde pratica

Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

Entre os números que mostram a precocidade de Nana está sua velocidade de saque. Em janeiro, a tenista de 1,70 metro de altura disparou a uma velocidade incrível de 189 km/h, força vista apenas entre profissionais – o recorde pertence a Sabina Lisicki, da Alemanha, que atingiu 210,8 km/h.

Nana diz: “Na hora não acreditei. Veio sozinho, não faço nenhum treino para chegar nessa velocidade. Treinamos o saque, claro, mas não achei que conseguiria chegar nessa velocidade ” .

Para o técnico júnior Danilo Ferraz, o saque forte é fruto de um trabalho de longo prazo. “É uma combinação de força e boa técnica que ela tem. E também “boa intenção” de sacar. Nem todos os tenistas da idade dela têm uma atitude tão boa com o saque, esse estilo agressivo”, explica o treinador que acompanha Nana há um tempo. trabalha há um ano e meio na Rede Tênis Brasil, organização sem fins lucrativos que tem investido fortemente no esporte nos últimos anos.

Os treinos de Paulinho, muitas vezes improvisados, são constantemente elogiados por Danilo e Leo Azevedo, experientes treinadores da Rede Tênis Brasil (RTB). “A primeira vez que o vi bater na bola já gostei dele”, diz Azevedo. parar.

Nana começou a treinar na RTB aos 12 anos. “Ele veio aqui com uma técnica muito boa. E a bola estava forte, já andando acima da velocidade média para a idade dele. um serviço tão árduo que o pai completou todo o processo de formação”, admite Leo Azevedo.

Com seu tênis forte e um grande sorriso no rosto, Nana foi bem recebida em um grupo que já contava com estrelas como Bia Haddad e a medalhista olímpica Louisa Stefani. “Ele era pequeno, tímido, mas estava aberto para ouvir tudo o que falávamos. É muito bom trabalhar com ele e com o pai, porque eles são muito gratos. algo que acontece hoje em dia, em um mundo onde todos estão programados para tudo, principalmente nas redes sociais.”

O FUTURO

Nana está oficialmente no ranking WTA, ainda vivendo uma vida de adolescente, que sua equipe quer preservar o maior tempo possível. Ele estuda com aulas e provas online enquanto viaja pelo mundo para competições. Eles já visitaram mais de 20 países só no ano passado.

Entre as aulas e os treinos, ela aproveita o pouco tempo livre para passar o tempo nas redes sociais e assistir partidas de tênis na TV. “Tenho uma hora e meia para ficar nas redes sociais. Muita coisa, né? Essa é a regra do treinador. Gosto de assistir TV, filmes e séries. E também assisto muitas partidas de tênis, além de assistir ao Break Série Point “Os bastidores do circuito são muito bons, os tenistas profissionais pensam como nós (jovens), essa é a frustração, já conheço a maneira de pensar deles.”

Enquanto isso, os treinadores e seu pai estão cautelosos quanto ao futuro do atleta. “Apesar de estar no ranking, ela ainda não é profissional, porque ser profissional é viver do tênis e ter uma dedicação especial. Nana ainda está estudando, é adolescente, está ocupada com vários empregos. seja assim. Ele tem potencial para ser um lindo tenista, o que acaba sendo um exercício que não gosto quando o tênis nos dá a resposta.



A jovem tenista Nauhani Silva, 14 anos, na quadra de São Paulo, onde pratica

A jovem tenista Nauhani Silva, 14 anos, na quadra de São Paulo, onde pratica

Foto: Felipe Rau/Estadão / Estadão

IRMÃS WILLIAMS BRASILEIRAS?

Paulinho é o responsável pela formação técnica de Nana, agora atua mais como conselheiro da filha e ocasionalmente joga futebol com ela. Com apelo adolescente, o pai conta os desafios que enfrentou desde a falta de recursos até a dor de cabeça que teve quando deixou a filha com a mãe de outros tenistas para pagar sua inscrição em torneios com aulas particulares.

“Se eu pudesse faria tudo de novo, exatamente igual”, diz Paulinho, não casualmente. Na verdade, o pai de Nana está fazendo tudo de novo, desta vez com Natalia, irmã mais nova da tenista de 14 anos. O caçula da família, de sete anos, segue exatamente os passos da irmã mais velha.

“Treinamos nos mesmos lugares: no asfalto, em casa, no Parque Villa-Lobos. Combinamos, como aconteceu com a Nana. Quero que a Natalya se divirta como a Nana. estou vendo a Nana de novo”, diz o pai, ainda tenso e acostumado a entrevistas.

Paulinho admite que sua vida é muito parecida com a de Richard Williams, pai das irmãs Serena e Venus Williams. A história desta família foi retratada no filme “King Richard: Writing of Champions”, cujo papel foi interpretado pelo ator Will Smith.

“Quando vi o filme, chorei porque era como a gente, né? Não acompanhei a história do Williams. Você vê tudo o que a Nana passou nessa história…” ela vê, entre rir e chorar. “Eu me senti exatamente como ele. Parecia que nossa história, o filme, continha conversas que tivemos em nossa família. Todos os triunfos familiares, todas as coisas que um pai fazia por suas filhas…”.

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